Os Thunderbolts inicialmente destinados ao 1º Grupo de Aviação de Caça foram enviados diretamente da fábrica da Republic Aviation à Itália já com as marcações da Força Aérea Brasileira. Ao longo da Campanha da Itália, entretanto, códigos e marcas foram adicionados e / ou modificados conforme a necessidade.

Cores

Quando o Grupo chegou à Itália, em outubro de 1944, os aviões da FAB disponíveis no depósito em Nápoles eram todos camuflados em Olive-Drab (ANA 613) nas superfícies superiores e Neutral Gray (ANA 603) nas inferiores. Foram recebidos em cinco lotes entre junho e novembro de 1944, sendo que apenas os três primeiros, de aeronaves das séries D-25, D-27 e D-28, todos camuflados, estavam disponíveis quando da chegada do Grupo. Isso causou uma certa confusão ao longo do tempo porque textos, incluindo do próprio Nero Moura, davam a entender que todos as Thunderbolts originais do Grupo eram camuflados. Nero Moura, inclusive, optou por trocar uma das aeronaves do Grupo por outra dos estoques da USAAF com acabamento em metal natural, de modo que a sua, como aeronave do Comandante do Grupo, se destacasse das demais.

"Quando chegamos no depósito onde nossos aviões estavam sendo montados e entregues ao nosso pessoal, observei que todos eram iguais, mas em um canto havia um diferente. Pensei comigo mesmo: Eu sou o comandante e por que não o meu avião ser diferente dos outros? Perguntei aos americanos se haveria alguma objeção em me ceder o avião prateado. Como eles disseram que não, ele se tornou o avião que utilizei na Itália."

Nero Moura

Pesquisas recentes, entretanto, mostram que houve um bloco de P-47D-30 (seriais de 44-20799 a 44-20806) enviado dos EUA com as marcas da FAB mas em metal natural, recebidos em Nápoles entre meados e o final de novembro de 1944, depois de iniciadas as atividades do Grupo em Tarquínia. Apenas uma dessas aeronaves, o P-47D s/n 44-20800 veria serviço com o GAvCa como o 2º B4, enquanto os demais seriam desviados para a USAAF. Posteriormente, aeronaves de reposição vindas dos estoques americanos, também em metal natural, seriam utilizadas pelo Grupo, o que disseminou a errônea crença de que "todos os Thunderbolts em metal natural do Grupo eram aeronaves de reposição vindas dos estoques americanos".

Aeronaves sem camuflagem tinham por pintura apenas uma faixa antirreflexo ('anti-glare') em olive-drab na parte superior da fuselagem, faixa essa com a função de evitar que a luz do sol refletisse na chapa metálica e ofuscasse o piloto. Essa faixa ia da extremidade anterior da carenagem do motor até o começo da empenagem vertical. Em aeronaves que tiveram a quilha dorsal colocada em campo o final da faixa antirreflexo acabava sendo coberto pela quilha. As fotos de algumas das aeronaves camufladas podem eventualmente dar a impressão de que ela também possuíam uma faixa antirreflexo em cor mais escura, às vezes interpretada como preto. Na verdade, essa faixa de cor mais escura nada mais é do que a repintura do local da faixa com o mesmo verde, a tinta mais nova parecendo ser uma cor mais escura. Como na área demarcada pela faixa um eventual reflexo num pedaço sem tinta poderia atrapalhar o piloto, procurava-se manter a pintura sempre em boas condições.

Obs.: Não confundir "metal natural" (a chapa metálica estava efetivamente sem pintura alguma) com a pintura em Alumilac (Aluminium Lacquer), esta sim uma pintura na cor alumínio, mais fácil de ser mantida em boas condições do que o metal natural e aplicada aos P-47 da FAB no pós-guerra.

 Diversas partes internas da aeronave eram recobertas com primer anticorrosão. Antes de entrarmos em detalhes, cabem algumas explicações sobre esse primer:

O primer utilizado nas aeronaves de fabricação americana era o Cromato de Zinco (Zinc Chromate), cuja finalidade era proteger as partes da corrosão e, por ser altamente tóxico, protegê-las ainda da proliferação de matéria orgânica. Sua formulação foi desenvolvida pela Ford Motor Company ao final da década de 20 e, posteriormente, passou a ser utilizado na indústria aeronáutica e pelo Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) a partir de 1933. Por ser um produto cuja principal importância era a formulação química e não a cor final, sua cor podia variar conforme o local de produção (Ford, DuPont, Berry Brothers, etc.) sem que a isso fosse dado importância. A cor original do Cromato de Zinco (ZnCrO4) usado como matéria prima para produção do primer, entretanto, pode ser descrita como um amarelo esverdeado brilhante.

O primer não era 100% opaco, tendo um certo grau de translucidez o que fazia com que sua cor após a aplicação variasse também em função da cor da superfície sobre a qual foi aplicado, já que o mais comum era o primer ser aplicado em camada única. Era comum, também, que a esse primer fossem adicionados outros pigmentos. O uso do pigmento preto dava ao primer uma maior resistência aos raios ultravioleta e, consequentemente, maior resistência ao desgaste em áreas de maior exposição à luz (cockpits, por exemplo). Dependendo da quantidade de pigmento adicionado o tom do primer podia variar do verde claro até o verde escuro. Outras vezes um pigmento era adicionado para dar um tom diferente ao primer, usando-o como uma segunda camada e ajudando a diferenciar locais com uma só mão de primer através da cor. Algumas dessas variações de cor acabaram sendo conhecidas por nomes específicos como "Yellow Zinc Chromate" (amarelo esverdeado), "Green Zinc Chromate" ou "Interior Green" (verde claro), "Dark Dull Green" (verde escuro) e mesmo "Salmon Pink" (Cromato de Zinco misturado com pigmento vermelho, usado pela Vought). O Interior Green acabou sendo padronizado (ANA 611) devido à enorme quantidade de verdes que eram criados com misturas locais em proporções distintas.

No que se refere aos P-47D do 1ºGAvCA, em todas as aeronaves o porão de rodas e a parte interna das portas do trem de pouso eram recobertas com Yellow Zinc Chromate, o mesmo ocorrendo com os cofres de munição nas asas e a parte interna de suas respectivas tampas. Algumas fotos mostram pernas de trem de pouso pintadas em Olive Drab, sempre em aeronaves do bloco D-25, corroborando o que alguns autores citam sobre este padrão (comum até o bloco D-23, último bloco dos chamados "Razorbacks") ter sido continuado até pelo menos parte da produção dos D-25. Nos demais a perna do trem de pouso era em alumínio sem pintura.

 As partes internas da cobertura do motor (do firewall para a frente) não eram pintadas, ficando no próprio alumínio anodizado.. A entrada de ar do supercharger, entretanto, aparece claramente como sendo da cor Neutral Gray em aeronaves verde/cinza e em metal natural nas aeronaves sem camuflagem.

Sobre a cor utilizada no cockpit, muitas das aeronaves restauradas e preservadas em museus tiveram seus cockpits pintados em "Green Zinc Chromate", também chamado de "Interior Green". Entretanto, peças não restauradas de P-47D da FAB preservados (Museu de Curitiba e Museu TAM, por exemplo) assim como de outros exemplares no exterior mostram uma cor verde-escura, correspondente ao "Dark Dull Green" já mencionado anteriormente.

 CorCódigo ANACódigo FS (aproximado)
im color ana613 Olive Drab 613 34087/34088
Neutral Gray 603 36173
Yellow Zinc Chromate - 33481
Dark Dull Green - 34092

Obs.: O código FS é mencionado apenas como uma referência auxiliar, já que na época essa classificação ainda não existia. Os códigos utilizados são os das cores que normalmente são consideradas como as que mais se aproximam, não sendo necessariamente uma coincidência exata.

Insígnias e Seriais

Os P-47D do lote inicial recebido pelo 1º GAvCa já vieram dos EUA com as insígnias aplicadas segundo o padrão adotado pela FAB, com a insígnia desta apenas sobre as superfícies superiores e inferiores de cada asa. Ainda como marca de nacionalidade, o leme de todas as aeronaves tinha a metade anterior pintada em verde e a posterior em amarelo.

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Após o início das operações, entretanto, ocorreram problemas de identificação de caças da FAB por desconhecimento das marcações brasileiras, havendo mesmo incidentes onde caças brasileiros quase foram atacados por caças aliados. Foi decidido, então, que as insígnias dos caças da FAB seguiriam o padrão da USAF, facilitando sua identificação. A 'Star and Bar" americana foi aplicada na fuselagem dos caças do 1º GAvCa (onde antes não havia insígnia alguma), bem como na superfície superior da asa esquerda e inferior da direita, com estrela da FAB aplicada sobre a estrela americana, sofrendo ligeira deformação para adaptar-se ao formato desta. 

 

Versão original da estrela da FAB, era aplicada em quatro pontos nas asas, nas superfícies inferiores e superiores de ambas as asas. Não era aplicada na fuselagem. Após a introdução da "star and bar" americana sob a estrela da FAB, ainda podia ser vista na superfície superior da asa direita e na inferior da asa esquerda de algumas aeronaves.

 

Variação da Type 3b americana sem o contorno em azul e versão mais comum da insígnia utilizada pelos Thunderbolt do 1º GAvCa. Nada mais era do que a 'Star and Bar' da USAF onde, sobre a estrela americana, era aplicada a estrela da FAB. Era aplicada em ambos os lados da fuselagem, na superfície superior da asa esquerda e na superfície inferior da asas direita.

 

Versão da Type 3b americana original com estrela da FAB aplicada sobre ela. Nos aviões de reposição originários dos estoques da USAAF, por já estar a insígnia americana aplicada na aeronave, a estrela da FAB era adaptada à americana, ficando mais 'magra'. Também aparece em alguns dos P-47 camuflados do Grupo.

É possível encontrar fotos com variações dessas aplicações como, por exemplo. contorno branco em volta da estrela, ausência do Cruzeiro do Sul na insígnia e até mesmo pintura invertida, como sob a asa direita do "1" de Nero Moura. A distância da parte curva (interna) da barra branca ao círculo azul também sofria variações, bem como fotos tiradas em fases diferentes da pintura da insígnia na mesma aeronave. 

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Afirmar se determinada aeronave tinha ou não esta ou aquela insígnia ou marcação pode ser uma pergunta difícil de responder sem fotografias de referência, sendo necessário também especificar uma data, já que é possível encontrar fotos da mesma aeronave com marcações diferentes em datas diferentes.

Mantinha-se na cauda o número de série USAAF da aeronave, pintado em amarelo (aeronaves verde/cinza) ou preto (aeronaves em metal natural) na empenagem vertical. Esse número de série era pintado com a omissão do primeiro dígito e do hífen separador. Por exemplo, se o número de série USAAF da aeronave era 42-26450, o número pintado na cauda era 226450. Os dois primeiros dígitos antes do hífen indicam o ano fiscal com cuja verba a aeronave foi paga. Ou seja, no caso do 226450 seu serial  indica que a aeronave foi a aeronave de número 26.450 a ser comprada pela USAAF com verba do Ano Fiscal de 1942 (e não necessariamente fabricada em 1942).

A especificação da USAAF ditava que nos P-47D-5 e posteriores o número de série deveria estar centralizado verticalmente com a dobradiça central do leme, mas as fotos mostram que na prática havia algumas pequenas variações para cima ou para baixo. Os dígitos mediam 7.5 pol (19,05 cm) de altura e 5 pol (12,7 cm) de largura, com um espaçamento de 1 polegada. (2,54 cm) entre eles.

Códigos de Esquadrilha

Para facilitar a rápida identificação das aeronaves em combate ou mesmo no pátio de estacionamento, foi adotado um sistema alfanumérico de identificação o qual consistia em uma letra (de A a D), identificando a esquadrilha, seguida de um número (de 1 a 6) identificando a aeronave dentro da esquadrilha.

Esse esquema tinha por base o utilizado nos demais esquadrões do 350th Fighter Group, que adotavam o mesmo esquema, porém com um número (5, 6 ou 7) à frente da letra identificadora de esquadrilha. Esse número identificava o 'Squadron' ao qual a aeronave pertencia. Por exemplo, o P-47 '6D5' pertencia ao 346th Fighter Squadron, sendo, dentro da esquadrilha 'D', o 5º avião. Como o 'Senta a Pua' era composto apenas por um 'Squadron', o dígito antes do código de esquadrilha foi omitido. Caso não o tivesse sido, a identificação de nossos aviões seria, por exemplo, 1A1, 1D4, 1C5, etc...

Um número '1' pintado após a letra de esquadrilha (A1, B1, C1, D1) identificava o líder da esquadrilha. Os demais números eram dados aos pilotos por ordem de antiguidade em serviço. As exceções a esse esquema eram as aeronaves do Comandante do Grupo (Ten. Cel. Av. Nero Moura) e do Oficial de Operações (Maj. Oswaldo Pamplona Pinto, depois substituído pelo Capitão Newton Lagares), que não possuíam designação de esquadrilha, tendo aplicados apenas os números '1' e '2' respectivamente.

O código alfanumérico de identificação de esquadrilha era aplicado nos dois lados da carenagem do motor, em branco nas aeronaves camufladas e em preto nas aeronaves com acabamento em metal natural.

Aplicação da Bolacha do "Senta a Pua"

O Avestruz Guerreiro era aplicado na lateral direita dos P-47, logo atrás dos "cowl flaps". Criada pelo Cap. Fortunato Câmara de Oliveira durante a travessia dos EUA para a Itália, o "Avestruz Guerreiro" foi aplicado às aeronaves usando máscaras feitas com chapas metálicas, sendo o lema "Senta a Púa" era escrito à mão. O Ten. Pedro de Lima Mendes, auxiliado pelo Asp. Attilio Bocchetti - que além de Chefe do Suprimento Técnico era um artista talentoso - fez as máscaras, enquanto o 2º Sgt José Adolfo Teixeira e o 2º Sgt. Claudio de Andrade Dias e sua equipe de pintura providenciaram a aplicação do avestruz nas aeronaves.

"Fora ele (Fortunato) quem, durante os dias ociosos da travessia no Colombie, compusera o emblema do Grupo com o avestruz que depois se tornaria célebre (...) E fora um outro piloto da mesma esquadrilha, o folclórico Limatão, quem labutara várias semanas em Tarquínia à testa de uma equipe de sargentos e soldados, manuseando moldes de lata recortada, para pintar o emblema nos narizes dos aviões"

Brig. Luiz Felipe Perdigão, no livro "Missão de Guerra"

Podem-se perceber sutis diferenças entre as bolachas pintadas no começo da Campanha e as pintadas nos aviões de reposição, especialmente nos últimos a entrarem em serviço, o que leva a crer que, apesar da semelhança dos desenhos, houve dois moldes diferentes para a pintura da bolacha, o segundo certamente feito devido ao desgaste do primeiro.

Sobre a bolacha, vide artigo em A Origem Do Avestruz Guerreiro.

Marcas Pessoais

Os P-47 do 1º GAvCa tinham, normalmente, o nome de seu piloto titular pintado no lado esquerdo da fuselagem, logo abaixo do canopy. Abaixo no nome do piloto normalmente ficavam os nomes dos mecânicos da aeronave. Nas aeronaves com camuflagem em cinza e verde, esses nomes eram pintados em letras brancas ou mesmo amarelas. Nas que tinham acabamento em metal natural, eram pintados em preto. O número de missões efetuadas pelo piloto era marcado desenhando-se pequenas bombas também no lado esquerdo da fuselagem. Agrupadas em conjuntos de cinco, essas pequenas bombas eram desenhadas inicialmente em pilhas verticais, mas conforme o número de missões aumentou foram repintadas em fila única em direção à cauda da aeronave. Nas aeronaves com camuflagem em cinza e verde, as marcas de missão eram pintadas em amarelo. Nas que tinham acabamento em metal natural, eram pintadas em preto.

Há, entretanto, algumas exceções fotograficamente registradas a essas regras, como o C1 do Cap. Fortunato com as marcas de missão agrupadas de dez em dez, o C5 do Ten. Av. Pedro de Lima Mendes com as marcas de missão do lado direito, o B3 do do Asp. Av. Raymundo da Costa Canário, que tinha tanto o nome do piloto como as marcas de missão do lado direito ou o B6 do Ten. Lara com as marcas de missões pintadas em duas fileiras longas.

Existem alguns casos comprovados de nomes colocados em aviões, como o "Trozoba" (A4) do Ten. Alberto Martins Torres. Um segundo P-47 tem um nome semelhante a "Frev o" pintado na fuselagem. Ambos os nomes, porém, foram apagados por ordem de Nero Moura, possivelmente por conta do nome dado ao A4 e de modo a evitar que outros de iguais calibre surgissem, visto que não pegariam bem em fotos de propaganda. Segundo depoimento do próprio Torres, o nome "Trozoba" foi apagado com uma camada de tinta grossa o suficiente para cumprir a ordem, mas fina o suficiente para que pudesse ser lido de perto. Houve ainda o caso do "Arlette", cujo nome foi pintado especificamente para ser fotografado junto ao Ten. Miranda Correia (Arlette era o nome de sua então noiva, a francesa Arlette Jasmine Lucienne Rose Vincent), sendo apagado em seguida.

Sobre pin-ups, conhecem-se apenas dois casos: o próprio "Arlette" que tinha a pin-up "Some Pumpkin", de Alberto Vargas, publicada na edição de outubro de 1941 da Revista Esquire, e uma aplicada na fuselagem do 2º B6 (P-47D-28-RA Thunderbolt nº 42-28986), comprovadamente retirada de uma das fotos femininas penduradas nas paredes dos quartos do alojamento dos oficiais em Pisa mas ainda não identificada. Apesar de apenas essas duas terem suas existências fotograficamente comprovadas, é possível que outras tenham existido.